segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Discriminação contra LGBTT - pesquisa mostra números do preconceito e da violência em Recife


Por Rosário de Pompéia


Práticas violentas e atos discriminatórios continuam fazendo parte do cotidiano de lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgêneros que vivem no Recife. Dados inéditos sobre esse cenário foram apresentados pela pesquisa “Política, Direitos, Violência e Homossexualidade”, divulgada na última semana. O estudo revela que cerca de 70% das 791 pessoas entrevistadas (em sua maioria homens) durante a 5ª Parada da Diversidade no Recife, em setembro de 2006, sofreram algum tipo de discriminação por causa da sua orientação sexual. Este percentual foi maior em comparação com os dados encontrados no Rio de Janeiro (64,8%). O levantamento também foi realizado em Porto Alegre, Buenos Aires e São Paulo, entre 2003 e 2005. O objetivo da pesquisa foi mostrar o perfil sócio-político dos participantes das paradas brasileiras e da população LGBTT que se concentra nas grandes cidades do país, e mapear os padrões de violência e discriminação que atingem gays, lésbicas, travestis, transexuais e bissexuais. “Recife foi escolhida para a continuidade do trabalho também por ser uma das capitais onde há maiores números de homicídios contra homossexuais no Brasil”, explica um dos coordenadores da pesquisa, Benedito Medrado, do Núcleo de Pesquisas em Gênero e Masculinidades (Gema/UFPE) e do Instituto Papai. A pesquisa também diagnosticou os locais ou espaços onde acontece a discriminação e revelou que as escolas e faculdades (33,5%) estão em primeiro lugar. O ambiente familiar (29,7%) e religioso (21,6%) também foram bastante citados. O comércio aparece com 19,7%, atendimentos em delegacias, com 19,1% e o ambiente de trabalho, com 14,2%. Os serviços de saúde foram citados por 10,9% dos entrevistados. “Os números ainda são aquém da realidade. Poucos expressam a sua homoafetividade e são esses que são discriminados, por exemplo, no serviço de saúde”, ressalta Cida Fernandez, Instituto Divas. Entre os agressores estão, principalmente, família, amigos, vizinhos, parceiros, colegas de trabalho ou de escola, representando 70,7% das pessoas que já agrediram lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgêneros. Cerca de 3% dos agressores são policiais. A principal forma de agressão é a verbal ou ameaça. Também foram registrados casos de violência física, sexual e chantagem. “Isso significa que as pessoas e instituições que deveriam proteger e cuidar do outro também são espaços de manifestação homofóbica. O Fórum LGBT tem buscado esforços no sentido de não apenas realizar campanhas, mas garantir de que haja uma lei que tipifique a homofobia como crime”, afirma Benedito. É importante lembrar que o projeto de lei 5003/2001 de autoria de Iara Bernardi (PT) prevê sanções penais para quem discrimina lésbicas, gays, bissexuais, transexuais e transgêneros.

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